Expectativa do mercado é de medidas duras no ajuste fiscal, mas analistas alertam que o esforço pode precisar chegar a R$ 40 bi ao longo do ano.
Em meio à crescente desconfiança sobre o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal, o Ministério da Fazenda divulga nesta quinta-feira (22) o primeiro Relatório Bimestral de Receitas e Despesas de 2025, documento-chave que servirá de termômetro para os mercados sobre a condução das contas públicas.
Segundo levantamento do Broadcast, a expectativa da mediana do mercado aponta para um congelamento de R$ 10 bilhões no Orçamento, número que pode indicar uma tentativa inicial de sinalização de responsabilidade, mas ainda distante do esforço fiscal necessário para o cumprimento da meta de déficit zero. A estimativa das 17 casas consultadas varia entre R$ 5 bilhões e R$ 28 bilhões.
O resultado primário estimado pelo mercado, já considerando esse bloqueio parcial, seria um déficit de 0,26% do PIB, ficando dentro da banda do novo arcabouço fiscal — que permite até 0,25% de rombo — mas ainda gera desconfiança sobre a efetiva entrega da meta central de déficit zero prevista para 2025.
A leitura mais crítica do mercado, porém, sugere que para o governo alcançar o déficit zero, seria necessário um esforço total de até R$ 40 bilhões entre contingenciamentos e revisão de despesas. O número expõe a diferença entre o que o Planalto estaria disposto a entregar e o que os investidores consideram como um plano crível de consolidação fiscal.
O relatório será detalhado em coletiva às 15h, com a presença dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), além de secretários de áreas técnicas como Orçamento, Tesouro Nacional e Receita Federal.
Expectativa vs. Realidade
Embora Haddad tenha descartado novos gastos e reiterado seu compromisso com a meta, o ambiente político impõe pressões crescentes. O relatório, segundo fontes, não deverá incluir parte significativa das promessas feitas pelo presidente Lula nas últimas semanas, como a gratuidade da conta de luz, o novo Vale Gás ou linhas de crédito para entregadores de aplicativo.
Na prática, o que o mercado deseja avaliar é se o relatório será uma peça técnica crível, com contingenciamentos reais e projeções conservadoras de arrecadação, ou se servirá apenas como um instrumento de narrativa, diante de uma série de medidas de apelo social sendo empurradas por fora do Orçamento.
O pano de fundo eleitoral
O avanço de pautas como a nova tarifa social, a expansão do Minha Casa Minha Vida e a reestruturação de subsídios preocupa investidores e agências de risco, pois amplia o risco de populismo fiscal em ano eleitoral. A percepção de que o governo está promovendo gastos indiretos para reverter a perda de popularidade de Lula pode contaminar a confiança e elevar os prêmios exigidos para investir no Brasil.
Visão Radar sobre a notícia:
O relatório bimestral será um divisor de águas para o mercado. Caso venha alinhado com os cenários mais otimistas de ajuste, pode reforçar a credibilidade da equipe econômica. Mas se o contingenciamento for visto como insuficiente ou simbólico, abre-se um novo ciclo de estresse na curva de juros e risco país.
Impacto nos ativos:
- 🔴 DI: Negativo – possível alta da curva se relatório decepcionar
- 🔴 Dólar: Negativo – percepção de risco fiscal pode elevar a moeda
- 🔴 Ibovespa: Negativo – ruído fiscal pode desvalorizar ações, especialmente estatais
- 🔘 Bitcoin: Neutro – tema local com impacto indireto sobre cripto