Cerimônia será na 5ª feira (29.mai), em Paris; principal autoridade será Tereza Cristina (PP), ex-ministra de Bolsonaro
O Brasil será oficialmente declarado livre da febre aftosa sem vacinação na próxima 5ª feira (29.mai.2025), durante a 92ª Assembleia Geral da Omsa (Organização Mundial de Saúde Animal), em Paris (França). O feito é histórico: coroa uma jornada de mais de 50 anos para erradicar a doença do rebanho nacional. O reconhecimento abre portas para mercados exigentes, como Japão e Coreia do Sul, e fortalece a imagem sanitária do país.
Mesmo assim, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não enviará nenhuma autoridade de peso para representar o país.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, não confirmou presença. Deve ir a Paris com Lula na semana seguinte, para visita oficial ao governo francês. Tentou adiar o anúncio na Omsa, sem sucesso.
Já o secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, que representaria oficialmente o país, teve sua viagem cancelada. Ele iria junto ao seu adjunto, Allan Rogério de Alvarenga. A revogação consta no Diário Oficial da União de 23 de maio. Eis a íntegra (PDF – 177 kB).
No lugar dos gestores, o ministério enviará a fiscal federal agropecuária Vania Lúcia de Assis Santana, lotada em Pernambuco.
Oposição em peso
Diante da ausência do governo, quem deve assumir o papel de principal autoridade brasileira será a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura no governo Jair Bolsonaro (PL).
Ela viaja a Paris como representante da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) e é quem deverá discursar em nome do setor agropecuário brasileiro durante a cerimônia.
O reconhecimento da Omsa vem justamente quando o Brasil vive um desgaste na sua imagem sanitária, por conta de focos recentes de gripe aviária, que levaram 25 países e União Europeia a suspender temporariamente as compras de produtos avícolas brasileiros.
Estados e entidades sem apoio federal
O esvaziamento da comitiva federal contrasta com as movimentações estaduais para o evento. Em Mato Grosso, Estado de Carlos Fávaro (PSD), o vice-governador, Otaviano Pivetta (Republicanos), vai liderar a comitiva. O Estado tem o maior rebanho do país, com mais de 30 milhões de cabeças.
Outros governos estaduais também vão marcar presença com força. Piauí, Pernambuco e Amazonas, entre outros, enviarão representantes. Esses Estados tiveram papel central no processo de suspensão da vacinação e buscam reconhecimento sanitário próprio.
Já entidades como a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) enfrentam dificuldades. A confederação informou ao Poder360 que há entraves no credenciamento de representantes brasileiros junto à Omsa, reflexo da falta de interlocução do Ministério da Agricultura com a organização internacional.
Procurado, o Ministério da Agricultura não quis comentar a ausência de representantes na cerimônia nem os relatos da CNA.
Oportunidade desperdiçada
O reconhecimento como país livre da febre aftosa sem vacinação é considerado o mais importante selo sanitário internacional para um exportador de proteína animal. O Brasil se autodeclarou livre da doença em 2024 e agora conseguiu validar essa condição junto à Omsa. A conquista poderá impulsionar a pecuária brasileira e consolidar sua posição em mercados de alto valor agregado.