Ex-ministro da Economia havia ido prestar esclarecimentos sobre a reforma da previdência
Paulo Guedes, quando foi ministro da Economia no governo de Jair Bolsonaro (PL), protagonizou embates com membros da oposição em diferentes sessões na Câmara.
Em 3 de abril de 2019, Guedes participou de uma sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados com o intuito de apresentar a reforma da Previdência. Foi chamado de “mais perverso que o Fernando Henrique Cardoso” pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).
O auge do conflito foi quando Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que Guedes era “tigrão” com os aposentados, agricultores e professores, e “tchutchuca” com “a turma mais privilegiada do país” e os “amigos banqueiros”. Em resposta, o então ministro disse que “tchutchuca é a mãe”. Guedes estava com o microfone desligado, e elevou o tom para ser ouvido.
Assista ao vídeo e relembre o episódio (3min43):
Depois do desentendimento, houve uma confusão generalizada. O então presidente da CCJ, Felipe Francischini (PL-RS), pediu silêncio e, ignorado, determinou o encerramento da sessão.
Assista ao vídeo e relembre (1min12):
No mês seguinte, Guedes voltou à Câmara para debater a reforma da Previdência em uma comissão especial. Disse que recebeu “ofensas” e “ataques“. Também declarou ter aprendido que é “padrão” a “baixaria” começar depois de 6 horas de debate.
Guedes se referiu ao protesto do deputado Ivan Valente (Psol-SP). Ele acusou o ex-ministro de ter cometido um crime de responsabilidade fiscal por não divulgar informações sobre a capitalização na Previdência. Rasgou um “cheque” em branco em nome dos bancos para o ex-ministro. Já a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) afirmou que o economista teria causado “rombos” em fundos de pensão.
MARINA SILVA
A atual ministra do Meio Ambiente foi ao Senado nesta 3ª feira (27.mai.2025) para tratar das áreas de conservação na Margem Equatorial. Saiu da sessão após bate-boca com senadores.
Ministros classificaram o caso como misoginia, e repudiaram o tratamento da ministra. A primeira-dama Janja da Silva, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros governistas se solidarizaram com Marina. O presidente Lula também telefonou para a ministra, e disse que ela tomou a decisão correta ao se retirar da audiência pública.
O clima entre a ministra e os congressistas estava tensionado desde a aprovação do licenciamento ambiental na semana anterior. Na ocasião, o Ministério do Meio Ambiente disse que a proposta enfraquece a legislação atual, viola a Constituição e representa riscos à segurança socioambiental do Brasil.
No início da audiência, Marina afirmou que a criação de 4 unidades de conservação no Amapá não afetaria a prospecção de petróleo na região. As áreas estão a mais de 100 quilômetros da área de interesse para exploração do combustível fóssil –principal bandeira de congressistas do Norte.
Omar Aziz (PSD-AM) mencionou o ritmo lento de obras na região Norte e disse que a falta de asfalto na BR-319 causou a morte de pessoas por falta de oxigênio durante a pandemia.
“A senhora não é mais ética do que ninguém aqui, a senhora está atrapalhando o desenvolvimento do país […] Sou da base do governo. Eu não vou cair na conversa de se vitimizar para mim, a senhora é muito respeitada mundo afora. A BR 319, de 400 km só, é muito pouco para falar que não tem competência para fiscalizar”, declarou.
Assista ao momento (1min49):
As declarações escalaram e resultaram em um bate-boca entre Marina e o presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO). Marina queria mais tempo para responder, mas Rogério concedeu a fala a outro senador.
“O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa, mas eu não sou. Eu vou falar”, disse Marina. Na sequência, Marcos Rogério, irritado, disse “agora é sexismo, ministra? Me respeite, ministra. Se ponha no teu lugar”…
Uma gritaria generalizada tomou conta da sessão. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que estava no local, questionou: “O que é isso, presidente? Que desrespeito é esse com a ministra? Ponha-se o senhor no seu lugar”.
“Vossa excelência não venha atribuir a este presidente que é sexista. Eu não sou sexista. A senhora veio a essa comissão para tumultuar”, disse Marcos Rogério durante a discussão.
Assista ao momento (2min20):
“A MULHER MERECE RESPEITO, A MINISTRA, NÃO”
Em outro momento, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) –que já falou em “enforcar” a Marina Silva em um evento de empresários– disse que “a mulher merece respeito, a ministra, não”.
“Ministra Marina, que bom reencontrá-la. Ao olhar a senhora eu vejo uma ministra. Não estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito, a ministra, não. Por isso, quero separar”, disse Valério.
A fala esquentou o clima da sessão. Marcos Rogério pediu “colaboração de todos” e “respeito das partes”. O líder do PT na Câmara, Rogério Carvalho (SE), saiu em defesa da ministra e afirmou que Marina estava sendo desrespeitada e que, por isso, tinha o direito de se retirar da sessão de desejasse.
“O debate político pode ser caloroso. Agora, manifestação de desrespeito é inaceitável. Quando alguém começa o debate dizendo que respeita a mulher, mas não respeita a ministra, isso não cabe em um debate institucional (…) se não houver respeito do senador, vou pedir que a ministra se retire por essa falta de respeito”, disse o petista.
Assista ao momento (1min30):
Marina Silva se retirou da audiência após a declaração. Ela disse que só ficaria se Plínio Valério se desculpasse. Ele se recusou. “Eu fui convidada como ministra, tem que me respeitar, ou eu me retiro. Porque eu não fui convidada por ser mulher”, disse antes de sair.
Assista ao momento (56s):
A ministra afirmou que foi alvo de violência política. Ela depois seguiu para a Câmara dos Deputados para pedir ao presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) mais prazo para votar o licenciamento ambiental.