Montadora de Elon Musk perde espaço na União Europeia apesar do avanço dos carros elétricos; participação do empresário no governo Trump atrapalhou
A Tesla passa por um momento difícil apesar da alta de veículos elétricos. Depois de perder o post de líder global do setor para a BYD em 2024, a montadora de Elon Musk também viu a concorrente chinesa superar pela 1ª vez suas vendas na Europa, onde os carros a bateria têm mais de 60% da fatia do mercado.
Em abril de 2025, a Tesla vendeu só 7.261 unidades no continente –somando União Europeia, Reino Unido, Islândia, Noruega e Suíça. É uma queda de 49% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Já a BYD registrou alta de 59%, com quase 15.300 unidades. Os dados são da Acea (Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis) e da consultoria Jato Dynamics.
A Europa é uma das regiões com mais incentivos fiscais e benefícios para proprietários de carros elétricos e híbridos, com destaque para Holanda, Reino Unido e países nórdicos. O resultado disso é que, em abril deste ano, 60,8% dos carros registrados no continente tem motorização a bateria. Os elétricos somam 17%.
No recorte da União Europeia, as fatias caem para 58,5% e 15,3%, respectivamente. A Tesla, contudo, não acompanha este crescimento. A empresa norte-americana foi responsável por só 0,6% das vendas de carros na UE no mês passado. Foram 5.475 veículos registrados nos 27 países do bloco europeu.
A Tesla teve um tombo significativo em comparação com as 18.224 unidades vendidas em março e as 11.540 de abril de 2024. Nos 12 meses anteriores, a participação de mercado da montadora variou de 0,9% a 3,9%. O pico foi em setembro, com 31.555 carros registrados na UE.
De janeiro a abril de 2025, a empresa de Musk vendeu 41.677 carros no bloco europeu –queda de 46,1% frente ao mesmo período do ano anterior. A participação no mercado foi a 1,1% depois de fechar o 2024 com 2,3%. Ou seja, o registro de carros da Tesla caiu mais que a metade neste ano. Leia mais no infográfico abaixo:
CONCORRÊNCIA E MUSK NA POLÍTICA
Há 2 principais fatores que influenciam o derretimento da Tesla no mercado europeu e global: a competitividade no setor de carros elétricos e a vinculação política da imagem de Elon Musk à Tesla.
O 1º ponto é explicado pelo aumento de montadoras que produzem e vendes carros híbridos e elétricos e o avanço da infraestrutura, principalmente no velho continente. Enquanto a Tesla viu queda de 46,1% nos registros de novos carros no 1º quadrimestre do ano, os carros elétricos em geral cresceram 25,4% e somaram mais de 558 mil unidades.
Segundo a Jato Dynamics, a empresa norte-americana foi só a 11ª com mais veículos elétricos vendidos em abril. Ficou imediatamente atrás da BYD. A liderança do setor é da Volkswagen. A montadora alemã comercializou mais de 107 mil veículos no mês, sendo 23.514 elétricos.
Se contabilizar todas as empresas do Grupo Volkswagen, foram mais de 58.000 EVs vendidos em 1 mês. O conglomerado tem 3 montadores dentre as 4 maiores do setor na União Europeia. A marca de luxo alemã Audi é a 3ª e a tcheca Skoda, a 4ª.
O grupo é responsável por produzir os 4 carros elétricos mais vendidos no bloco. O modelo mais bem-sucedido da Tesla é o Model Y, em 9º no ranking. O Model 3 é o 24º. O problema é o número de opções limitado da companhia texana. A BYD, que vendeu mais carros que a concorrente norte-americana, não tem nenhum modelo entre os 25 mais populares.
O 2º problema da montadora dos EUA é seu dono e CEO. Elon Musk tornou a Tesla a maior montadora do mundo em valor de mercado, com folga para a japonesa Toyota, em 2º lugar na lista. Apesar disso, as posições políticas de Musk afastam a Tesla de parte dos consumidores.
A entrada do empresário no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), não ajudou. Desde que Musk assumiu o cargo de conselheiro do Doge (Departamento de Eficiência Governamental), em janeiro de 2025, a Tesla passou a ser alvo de ataques nos EUA e na Europa.
Ao menos 5 Estados norte-americanos registraram atos de vandalismo contra carros, concessionários e estações de carregamento da Tesla em 2025: Washington, Oregon, Carolina do Sul, Colorado e Nevada. Também houve protestos na Itália, na Alemanha e na França, com a queima de veículos da montadora texana.
Foi criado ainda um movimento de manifestações pacíficas contra a empresa de Musk, intitulado “Tesla Takedown” (Derrube a Tesla, na tradução livre). Proprietários de veículos da marca passaram a colar adesivos para expressar que não concordam politicamente com o CEO, como mostrou reportagem do New York Times.
Elon Musk anunciou na 4ª feira (28.mai) a saída do governo Trump. Seu mandato no Doge estava previsto para durar 130 dias e terminaria na 6ª feira (30.mai). “Gostaria de agradecer ao presidente Donald Trump pela oportunidade”, disse o empresário em seu perfil no X.
