Bolsonaro nega pressão a ex-ministro da Defesa sobre urnas

by Radar Invest News

Ex-presidente depõe no STF nesta 3ª feira (10.jun); Cid disse que ele queria incluir no texto que fraude era possível

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou nesta 3ª feira (10.jun.2025) ter pressionado o general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, para que ele incluísse em um relatório a alegação de que seria possível fraudar as urnas eletrônicas.

“Eu pedia ao ministro da Defesa que fizesse um relatório o mais imparcial possível, colocando apenas o que não deixasse dúvidas. Meu relacionamento com qualquer ministro nunca foi de pressão ou autoritarismo, era uma relação bastante fraternal”, afirmou. A declaração foi dada em depoimento à 1ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), na ação penal que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022.

“Jamais pressionei qualquer ministro, muito menos o general Paulo Sérgio, para que fizesse isso ou aquilo. O relatório contou com o meu acordo. Sempre estive ao lado da Constituição e refuto qualquer minuta que não esteja enquadrada nela”, declarou Bolsonaro.

Em novembro de 2022, o Ministério da Defesa enviou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um relatório elaborado por técnicos das Forças Armadas, que não identificaram indícios de fraudes nas eleições presidenciais daquele ano.

O documento, porém, também não descartou a possibilidade de fraudes ou inconsistências nas urnas eletrônicas.

Em delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que o então presidente pressionou o general Paulo Sérgio Nogueira a incluir no relatório a alegação de que seria possível fraudar as urnas.

“Na verdade, ele [Bolsonaro] queria que escrevesse que houve fraude. Então, foi feita uma construção, uma discussão, e o que acabou saindo foi que não era possível comprovar porque não era possível auditar. Acabou sendo um meio-termo entre o que o presidente queria e o que o general fez com o trabalho técnico”, disse Cid.

Assista ao vivo: 

INTERROGATÓRIOS

A 1ª Turma do STF começou na 2ª feira (9.jun) a interrogar os réus do núcleo crucial na ação penal por tentativa de golpe de Estado. Segundo a PGR, os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que tinham como objetivo impedir a posse de Lula.

Fazem parte do grupo:

  • Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República;
  • Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e deputado federal;
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente em 2022.

Os interrogatórios devem ser finalizados até a 6ª feira (13.jun). O 1º a ser ouvido foi Mauro Cid, que fechou um acordo de colaboração com o STF. Os demais réus estão sendo interrogados na sequência, em ordem alfabética. A ordem foi estabelecida assim para que todos tenham conhecimento do que o delator falou e, assim, possam exercer o amplo direito de defesa.

Todos os réus do núcleo são obrigados a comparecer nos interrogatórios, mas podem permanecer em silêncio e responder a algumas ou nenhuma pergunta. O relator, ministro Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados podem fazer perguntas. Se outros ministros da 1ª Turma comparecerem, também podem questionar os réus.

Depois de terem sido interrogados, os réus não precisam mais comparecer. O único do grupo que não irá até o plenário da 1ª Turma é o general Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro. Ele participa por videoconferência.

Os interrogatórios fazem parte da etapa de instrução criminal –momento de produção de provas. Já foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa e ainda podem ser produzidas provas documentais e periciais que forem solicitadas pelas partes e autorizadas pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.

Eventuais diligências para esclarecer algum fato apurado durante a instrução também podem ser realizadas. Só depois dessa etapa é que a acusação e as defesas devem apresentar suas alegações finais e Moraes preparará o relatório final para o julgamento.

Os interrogatórios são transmitidos no canal do STF no YouTube e na TV Justiça ao vivo. O Poder360 também faz a transmissão no canal deste jornal digital no YouTube (inscreva-se e ative as notificações). No Brasil, o interrogatório de réus em ações penais é, por regra, um ato público. Embora a transmissão ao vivo não seja comum, o STF já permitiu acesso de jornalistas e do público em outros casos semelhantes.

Até esta 3ª feira (10.jun), falaram: Mauro Cid, Alexandre Ramagem, o Almir Garnier, Anderson Torres e general Heleno.

Assista aos vídeos dos interrogatórios dos réus ao STF:

Leia reportagens sobre o interrogatório de Mauro Cid:

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