Braga Netto nega ter repassado dinheiro a Cid em sacola de vinho

by Radar Invest News

Ex-ministro da Casa Civil diz que o tenente-coronel mentiu em seu depoimento à PF; o general está preso desde dezembro

O ex-ministro da Casa Civil general Walter Braga Netto negou nesta 3ª feira (10.jun.2025) ter repassado dinheiro ao tenente-coronel Mauro Cid em uma sacola de vinho. O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse à PF (Polícia Federal) que recebeu o montante para financiar ações em apoio a uma tentativa de golpe de Estado.

Segundo o general, que foi candidato a vice na chapa com Bolsonaro em 2022, ele não tinha contato com os supostos empresários do agronegócio que teriam emprestado o dinheiro. Ele acusou Cid de “faltar com a verdade”. Braga Netto foi interrogado por videoconferência como réu na ação penal por tentativa de golpe no STF (Supremo Tribunal Federal).

“O Cid veio atrás de mim e me perguntou se o PL poderia arrumar dinheiro. Era comum porque quando entregamos esse recurso do presidente, outros políticos pediam uma quantia emprestada para pagar as contas de campanha atrasadas, dentro do previsto. Quando Cid veio até mim, pensei que era algo de campanha e falei para ele procurar o tesoureiro do partido. Mais tarde o tesoureiro me disse que não tinha amparo para dar o dinheiro que Cid queria”, declarou o general.

Segundo Cid, Braga Netto teria pedido o dinheiro emprestado a empresários do agronegócio. O repasse do dinheiro não foi citado pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro nos seus 2 primeiros depoimentos. A informação surgiu depois que Cid foi advertido que, em caso de omissão, poderia ser preso novamente e ter o acordo de colaboração premiada suspenso. Ele confirmou a sua declaração quando foi interrogado pelo Supremo na 2ª feira (9.jun).

De acordo com Braga Netto, no entanto, ele não tinha contato com empresários do setor. “Isso não corresponde à realidade. Eu não tinha contato com empresários, então, não pedi dinheiro e não entreguei dinheiro para ninguém. Os empresários estavam mais interessados no Bolsonaro do que em mim”, disse.

Em seu depoimento à PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teria dito que a entrega de dinheiro teria sido combinada em uma reunião na casa do então candidato a vice de Bolsonaro. Outros 2 militares das Forças Especiais (os kids pretos) teriam participado.

O general, no entanto, negou esta versão. Disse que Mauro Cid apareceu em sua casa com 2 “apoiadores” que queriam conhecê-lo e que eles ficaram cerca de 20 minutos na sua casa, sem discutir financiamento.

Braga Netto está preso preventivamente desde dezembro de 2024 por suspeita de obstrução de Justiça. Na decisão, um dos motivos que o ministro Alexandre de Moraes deu para justificar a prisão do general foi a entrega de dinheiro a Cid em uma sacola de vinho.

FORÇAS ARMADAS

Na denúncia da PGR (Procuradoria Geral da República), Braga Netto teria sido um dos financiadores do golpe e, por isso, faria parte dos líderes da organização criminosa.

Ao STF, o ex-ministro da Casa Civil também negou que tenha ordenado que militares promovessem ataques aos comandantes das Forças Armadas Freire Gomes (Exército) e Baptista Júnior (Aeronáutica) nas redes sociais por não aderirem ao golpe.

Segundo a denúncia da procuradoria, há mensagens enviadas pelo general que dariam este comando a outros militares: “Senta o pau no Baptista Júnior”. O ex-comandante da Aeronáutica declarou em depoimento à Corte que ainda é alvo desses ataques.

DELAÇÃO DE CID

O ex-ministro também negou que tenha tentado obter informações sobre a delação de Cid com o pai do tenente-coronel, o general Lourena Cid. De acordo com o ex-ministro, foi Lourena Cid quem o procurou para pedir que ele ajudasse o filho politicamente.

“Essa mensagem que dizem que eu tentei falar com o Cid, foi o pai do Cid que me ligou, e o que ele me pediu é que ele queria apoio político para o filho dele, ele reclamava que as pessoas só queriam saber de 8 de janeiro, que ninguém falava com o filho dele. Eu nunca entrei em contato com o Cid e nem nunca perguntei nada sobre delação premiada”, disse.

A tentativa de obter informações sobre os depoimentos de Cid também é um dos motivos pelos quais o general Braga Netto está preso.

INTERROGATÓRIOS

A 1ª Turma do STF começou na 2ª feira (9.jun) a interrogar os réus do núcleo crucial na ação penal por tentativa de golpe de Estado. Segundo a PGR, os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que tinham como objetivo impedir a posse de Lula.

Fazem parte do grupo:

  • Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República;
  • Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e deputado federal;
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente em 2022.

O 1º a ser ouvido foi Mauro Cid, que fechou um acordo de colaboração com o STF. Os demais réus foram interrogados na sequência, em ordem alfabética. A ordem foi estabelecida assim para que todos tenham conhecimento do que o delator falou e, assim, possam exercer o amplo direito de defesa.

Todos os réus do núcleo são obrigados a comparecer nos interrogatórios, mas podem permanecer em silêncio e responder a algumas ou nenhuma pergunta. O relator, ministro Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados podem fazer perguntas. Se outros ministros da 1ª Turma comparecerem, também podem questionar os réus.

Depois de terem sido interrogados, os réus não precisam mais comparecer. O único do grupo que não foi até o plenário da 1ª Turma é o general Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro. Ele participou por videoconferência.

Os interrogatórios fazem parte da etapa de instrução criminal –momento de produção de provas. Já foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa e ainda podem ser produzidas provas documentais e periciais que forem solicitadas pelas partes e autorizadas pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.

Eventuais diligências para esclarecer algum fato apurado durante a instrução também podem ser realizadas. Só depois dessa etapa é que a acusação e as defesas devem apresentar suas alegações finais e Moraes preparará o relatório final para o julgamento.

Os interrogatórios são transmitidos no canal do STF no YouTube e na TV Justiça ao vivo. O Poder360 também faz a transmissão no canal deste jornal digital no YouTube (inscreva-se e ative as notificações). No Brasil, o interrogatório de réus em ações penais é, por regra, um ato público. Embora a transmissão ao vivo não seja comum, o STF já permitiu acesso de jornalistas e do público em outros casos semelhantes.


Assista aos vídeos do interrogatório dos réus ao STF:

Leia reportagens sobre o interrogatório de Bolsonaro:

Leia reportagens sobre o interrogatório de Mauro Cid:

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