Diretriz médica deixou Biden sem exame de câncer de próstata

by Radar Invest News

Ex-presidente dos EUA descobriu câncer agressivo neste mês, aos 82 anos, mas não fazia o teste para detecção do tumor desde 2014 por causa da idade avançada; em 2019, fez exame específico que detectou aumento da próstata, mas sem sinais de células cancerígenas

O ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden (Partido Democrata), 82 anos, anunciou em 18 de maio que foi diagnosticado com câncer na próstata. O tumor está em estágio avançado e já se espalhou para os ossos, o que torna a cura improvável. Apesar disso, especialistas dizem que Biden deve fazer um tratamento pouco invasivo e que um diagnóstico mais cedo traria poucos benefícios.

Segundo o porta-voz de Biden, o ex-presidente não sabia que tinha câncer antes do exame feito recentemente. Isso porque o democrata não realizava o teste sanguíneo para detecção do câncer de próstata desde 2014, quando tinha 71 anos. O motivo: recomendação médica dos Estados Unidos.

Segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), homens acima dos 70 anos não precisam testar regularmente para câncer de próstata. Médicos entrevistados pelo Poder360 disseram que a diretriz norte-americana se dá pelo baixo benefício em identificar o câncer de próstata antecipadamente em homens mais velhos porque a expectativa de vida depois dessa faixa etária seria minimamente alterada.

“O câncer de próstata é muito lento. Tem-se a orientação de diminuir check-ups depois dos 80 anos para evitar [o diagnóstico de] câncer que não vai causar mal ao paciente. Muitos depois dos 80 têm vida curta por outros problemas. Considera pela idade que vale a pena fazer menos [check-ups] e por isso detectam [o câncer] mais avançado”, disse o médico Daher Chade, especialista em urologia e integrante do Centro de Urologia no Hospital Sírio-Libanês.

O Instituto Nacional de Câncer dos EUA lançou uma força-tarefa em 2008 contraindicando a testagem em homens acima de 75 anos depois de um pico de casos. Essa diretriz reduziu em mais de 1/3 os diagnósticos de câncer de próstata no país até 2015. Três anos depois, passou a recomendar que pessoas de 55 a 59 anos considerassem se examinar. Acima dos 70 anos, não há consenso ou periodicidade.

Biden foi presidente dos Estados Unidos por 4 anos, de 2021 a 2025. Neste período, seguiu a recomendação e não fez nenhum exame de PSA (Antígeno Prostático Específico) mesmo tendo realizado em exame específico em 2019 que indicou uma hiperplasia benigna da próstata, caracterizada pelo aumento da glândula. Na época, não foi detectada a presença de câncer.

“Não é negligente ficar sem examinar desde 2014. É o deadline dos Estados Unidos. Estudos questionam se precisa rastreio a cada 1 ou 2 anos. Mas a chance de descobrir mais precoce é muito significativo”, explicou Oren Smaletz, médico oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

Enquanto chefe do Executivo norte-americano, Biden divulgou o resultado de seus exames anuais, que não incluiam o PSA. Donald Trump em seu 1º mandato (2017-2021) não divulgou, mas foi testado para câncer de próstata. Barack Obama (2009-2017) e George W. Bush (2001-2009) também faziam testes de PSA enquanto estavam na Casa Branca. Mas eram mais novos. Deixaram o cargo com 55 e 62 anos, respectivamente.

O médico de Biden disse que a descoberta do câncer se deu depois de o democrata sofrer com sintomas urinários. Segundo especialistas em oncologia, Biden poderia seguir vivendo com o câncer sem intercorrências caso o tumor não tivesse espalhado e apresentado sintomas. A estimativa de sobrevida –termo utilizado pelos médicos para determinar a expectativa de vida pós-diagnóstico– gira em torno de 5 anos em tumores no estágio do identificado em Biden. A expectativa mais otimista é de de 5 a 10 anos, acima do observado na década de 1990.

“Quando vai para os ossos a chance de cura começa a baixar muito. Fala-se mais do controle do que da cura”, afirmou o dr. Oren Smaletz.

Para o doutor Daher Chade, do Sírio-Libanês, tumores como o do democrata têm menos de 10% de chance de remissão. “Nesse caso não procura a cura mais. Há uma série de tratamentos que fazem prolongar a vida. Muito provável que a gente veja o Biden relativamente bem nos próximos anos”, declarou o especialista.

Um dos motivos para reduzir a testagem em mais velhos é evitar tratamentos desnecessários. Os diagnósticos positivos entre homens de 70 a 80 anos poderiam superar os 50% caso esta faixa da população fosse examinada regularmente. E a eficácia em elevar a sobrevida seria mínima.

O câncer de Biden é considerado agressivo. Tem pontuação 9 na escala Gleason (que varia de 6 a 10, sendo 10 o mais agressivo). Contudo, é sensível a hormônios. Isso significa que o ex-presidente deve ser submetido a uma terapia de depravação hormonal, quando há a redução da testosterona.

Esse tipo de tratamento é menos invasivo que a quimioterapia e tem efeitos colaterais brandos, como perda de massa óssea e muscular. Também torna o paciente mais suscetível a sofrer um infarto ou um derrame, mas esses riscos já seriam comuns entre pessoas acima de 80 anos.

Não é possível estimar há quanto tempo as células cancerígenas estão no corpo de Biden. Podem ser anos ou décadas. A agressividade do tumor indica um avanço rápido, o que pode explicar o diagnóstico já com metástase.

“Difícil falar do tempo da doença. A maioria demora mais sem desenvolver. Pode ser que tenha evoluído de forma mais lenta”, declarou o oncologista clínico Bruno Carvalho, da Rede D’Or.

O doutor Oren Smaletz, do Einstein, afirmou que uma das possibilidades é que o câncer de Biden tenha surgido já metastático –ou seja, espalhado para outro órgão. Segundo o médico, esse tipo de tumor corresponde de 15% a 20% dos casos. “Em geral, é questão de meses ou poucos anos pode se desenvolver. É muito silencioso quando esta só na próstata”, afirmou.

HISTÓRICO DE CÂNCER NA FAMÍLIA BIDEN

Em uma entrevista à imprensa em 20 de julho de 2022, Biden cometeu uma gafe e disse que tinha câncer. À época, a Casa Branca disse que ele se referiu a um câncer de pele que foi removido antes de o democrata assumir a Presidência dos EUA. Ele voltou a ter uma lesão cancerígena superficial em fevereiro de 2023, que foi removida. O filho mais velho do ex-presidente, Beau Biden, morreu de câncer no cérebro em 2015.

DIRETRIZ DO BRASIL É DIFERENTE

No Brasil, a recomendação médica é individualizar os casos a partir de 70 ou 75 anos. A partir dessa idade, médico e paciente definem a periodicidade da testagem. São levados em consideração fatores de risco como histórico da doença em familiares de 1º grau e a cor da pele –homens negros são mais propensos a desenvolver câncer na próstata.

A medicina brasileira determina que a testagem deve começar, em geral, aos 50 anos, e ser realizada anualmente. Em alguns pacientes, é recomendado iniciar o acompanhamento aos 45 anos.

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