Advogados querem colocar delator e general frente a frente para esclarecer o que consideram “divergências” nos depoimentos do ex-ajudante de ordens
Os advogados do general Walter Braga Netto pediram ao STF (Supremo Tribunal Federal) na 2ª feira (16.jun.2025) uma acareação de seu cliente com o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid. Braga Netto está em prisão preventiva desde dezembro de 2024 e é 1 dos 31 réus acusados por tentativa de golpe de Estado em 2022.
Na petição, a equipe de defesa do ex-candidato a vice-presidente diz que existem “divergências” entre as versões que o tenente-coronel apresentou até o momento e que uma acareação poderia dirimi-las. Cid firmou um acordo de delação premiada com a PF (Polícia Federal), homologado pelo STF.
Leia na íntegra a petição da defesa de Braga Netto (PDF – 1,5 MB).
A acareação consiste em colocar, frente a frente, 2 ou mais envolvidos em um mesmo processo judicial para que esclareçam eventuais discrepâncias em seus depoimentos, permitindo que cada um se explique ou rebata um ao outro.
As divergências apontadas pela defesa de Braga Netto referem-se principalmente a 2 pontos:
- à reunião, relatada por Cid, na casa do general para discutir o plano “Punhal Verde Amarelo“, que, segundo a acusação, planejava o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do STF Alexandre de Moraes;
- à entrega de dinheiro que, segundo Mauro Cid, teria sido feita a ele pelo general para financiar as operações do plano.
Segundo os advogados, o ex-ajudante de ordens apresentou “diferentes versões” dos fatos e não “trouxe aos autos provas que corroborassem suas acusações” em relação a Braga Netto.
Além da acareação, a defesa de Braga Netto pede a suspensão da ação penal do núcleo 1 até o término da instrução dos demais 3 núcleos, por eles estarem relacionados.
Segundo a petição, os interrogatórios dos demais réus podem fornecer informações relevantes para os advogados construírem as alegações finais da defesa.
A petição dá como exemplo o réu Ailton Barros, capitão expulso do Exército, que faz parte do núcleo 4, de “operações estratégias de desinformação” e que, em seu interrogatório futuro, poderá fornecer esclarecimentos sobre as mensagens trocadas com Braga Netto.
De acordo com a acusação, o núcleo 1 é o “núcleo central” da trama golpista, que inclui Bolsonaro, Braga Netto e outros 6. Há ainda mais 3 núcleos: o do “gerenciamento de ações” (6 réus), o de “ações coercitivas” (9 réus, sendo 8 militares e 1 agente da PF) e o de “operações estratégicas de desinformação” (7 réus).
Outro pedido incluído na petição dos advogados de Braga Netto é o alargamento do prazo para a defesa analisar o material bruto disponibilizado pela PF.
Os requerimentos da defesa do general foram feitos depois do depoimento de Cid à 1ª Turma do STF, na semana passada. O ex-ajudante de ordens afirmou que participou de reuniões com o ex-ministro da Defesa para discutir a denominada “minuta do golpe”.
Braga Netto negou ter se envolvido no plano golpista e disse que as declarações de Cid de sua participação não estão amparadas em provas.
DEFESA DE BOLSONARO
Também na 2ª feira (16.jun), a defesa de Bolsonaro pediu ao STF a anulação da delação de Cid. A solicitação foi motivada por mensagens que indicariam que o tenente-coronel teria mentido em seu depoimento à Corte.
Os advogados do ex-presidente argumentaram que as conversas, reveladas pela revista Veja, mostram o descumprimento do acordo, “já que se expõe o fato de que o delator quebrou o sigilo imposto à sua delação, bem como mentiu na audiência na qual foi interrogado, o que é causa para a rescisão”.
Durante o interrogatório de Cid no STF, o advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, questionou se o militar havia falado sobre a delação com outras pessoas pelo Instagram. O tenente-coronel negou. Em seguida, Vilardi perguntou se ele conhecia o perfil “Gabriela R”. O militar disse que Gabriela é o nome de sua esposa, mas que não conhecia a conta.
A reportagem, publicada na 5ª feira (12.jun), apresenta capturas de tela que mostram conversas entre o ex-ajudante de ordens e uma pessoa próxima a Bolsonaro. Segundo a Veja, o militar teria usado o perfil @gabrielar702 no Instagram para discutir bastidores do inquérito.
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